Tem sido cada vez mais evidente que os sistemas alimentares hegemônicos contemporâneos têm impactado de forma negativa a saúde, a alimentação e a nutrição humana. Esse cenário tem levado ao reconhecimento da premência de redirecionar os sistemas alimentares de forma corajosa e humanitária para além dos interesses financeiros e políticos de corporações mundiais para a promoção da paz e da soberania e da segurança alimentar e nutricional dos povos, com a urgência de ressignificar estratégias de reversão destes sistemas que tem promovido problemas climáticos e ameaças à vida humana e do planeta.

São muitos os desafios a serem superados para incentivar a promoção de sistemas alimentares sustentáveis, resilientes e inclusivos, para evitar o risco local e global à saúde das populações, à biodiversidade e à preservação ambiental. Entre os desafios está a construção de processos de governança com maior protagonismo e participação da sociedade na construção de eixos prioritários que não permitam e nem estimulem mais desigualdades e aprofundamento de injustiças econômicas e sociais.

O Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares (OBHA) vem desenvolvendo projetos orientados pelo Programa Institucional de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Fiocruz (PITSS-Fiocruz) criado em 2019. Seus objetivos visam apoiar a “indução, articulação e fortalecimento de ações territorializadas para promover saúde e sustentabilidade nos territórios, assim como a geração e o compartilhamento de conhecimentos sobre territórios sustentáveis e saudáveis e o apoio à formulação e implementação de políticas públicas”. Tem também o propósito de criar metodologias e estratégias de governança de ações de promoção de saúde de base territorial, em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).  Além disso, tem o propósito de promover a articulação das diversas escalas de territorialização das ações de promoção e vigilância em saúde, definindo interfaces de gestão e informação do qual o componente relacionado ao desenvolvimento de ambientes alimentares está em seu arcabouço de constituição.

Nessa perspectiva, o OBHA lança a 4ª edição dos Cadernos do OBHA com a temática Desertos, pântanos e oásis alimentares: reflexões, experiências e políticas públicas. A intenção é de compartilhar conhecimentos sobre territórios saudáveis e sustentáveis e sua relação com ambientes alimentares. Nessa edição serão apresentadas produções científicas e acadêmicas de convidados nacionais, mas, fundamentalmente, de projetos desenvolvidos atualmente por programas de ensino e pesquisa da Gerência Regional de Brasília da Fundação Oswaldo Cruz (GEREB-Fiocruz).

A edição inicia com a sessão de arte e cultura que traz a arte da palavra poética com a estética criativa do cordel intitulado de Desertos alimentares e soluções comunitárias. E a primorosa receita Bolo de Saia inspirada e desenvolvida por meio da experiência de mulheres boleiras assentadas da reforma agrária do agreste de Pernambuco que se reúnem para atuar na arte da comida e fazer do ato de cozinhar um ato político.

Na sequência a edição segue com a abordagem contextual, conceitual e metodológica sobre o tema proposto, na qual os autores realizam ensaio reflexivo e crítico sobre a temática relacionada ao desenvolvimento de ambientes alimentares contemporâneos.

É apresentado de forma inédita o resultado de pesquisa realizada pelo OBHA sobre os desertos, pântanos e oásis alimentares da Região Integrada de Desenvolvimento (Ride) do Distrito Federal/DF e entorno, com a adição de texto desenvolvido pela equipe da Subsecretaria de Segurança Alimentar e Nutricional do Governo do Distrito Federal-DF sobre as políticas e ações que vêm sendo realizadas no DF, as quais contribuem para promover a alimentação saudável, a soberania e a segurança alimentar e nutricional nesse contexto.

São publicados textos com resultados de projetos de pesquisa realizados na GEREB/Fiocruz-Brasília, do Curso de Residência em Saúde da Família com Ênfase em Saúde da População do Campo sobre territórios saudáveis e sustentáveis para refletir ambientes alimentares no contexto da Atenção Básica de Saúde do Sistema Único de Saúde em nível urbano e rural e do Obha em terreiros religiosos de matriz africana.

Por fim, são trazidas experiências de pesquisas e de processos formativos realizados pelo Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT) da Gerência Regional de Brasília/GEREB-Fiocruz-Brasília, com foco na educação popular em saúde, agroecologia, Territórios Saudáveis e Sustentáveis (TSS), saúde do campo e alimentação saudável.

Erica Ell
Denise Oliveira e Silva
Eduardo Nilson
Juliana Amorim Ubarana