Foto: Thiago Miranda
“2014 vai ser um ano muito melhor, minha filha vai ter tranquilidade para estudar, teremos condição de viver melhor. Eu quero muita felicidade, saúde e oportunidade para trabalhar”, comemora Roseildo da Silva Santos, de 31 anos. A família de Roseildo é uma das 13 que deixaram pacificamente a área da Garagem do Senado nos últimos dias. Ele é filho de Rosivaldo e Dona Francisca, paraibanos que vieram para Brasília em busca de melhores condições de vida e viveram da catação de materiais recicláveis por 26 anos na invasão.
“A vida era difícil demais, a menina andava jogada, não conseguia estudar direito, até perdeu o ano. Agora a Alessandra tá feliz, brinca, ri mais”, comenta Rosildo sobre a filha de nove anos, que agora vive em uma casa alugada em Santa Maria com o pai.
Histórico
As 13 famílias, cerca de 60 pessoas, fazem parte de um mesmo núcleo familiar (filhos e netos ou sobrinhos de Dona Francisca) e sobreviveram por mais de duas décadas da renda adquirida com a venda de materiais recicláveis, catados por eles na região da Esplanada dos Ministérios. Viveram em condições precárias em relação à habitação e em péssimas condições de higiene, pois o lixo se misturava com o material para reciclagem, causando odores e atraindo ratos e baratas.
As famílias moradoras da Garagem do Senado já eram acompanhadas sistematicamente pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS Brasília) desde o início de 2013, por meio de atendimento por psicólogos e assistentes sociais, grupos socioeducativos, cestas emergenciais, visita domiciliar, além de encaminhamentos para políticas públicas, como educação, trabalho, entre outras.
O acordo que garantiu a desocupação pacífica da área foi assinado no último dia 9 de dezembro por representantes da SEDEST e representes dos moradores da Garagem do Senado. Por meio do acordo, as famílias foram inscritas no Programa Morar Bem, e a Sedest se comprometeu a auxiliar na regularização da situação de todas as famílias no Cadastro Único para Programas Sociais, no acesso e permanência no Programa Bolsa Família e no DF Sem Miséria, no provimento de cestas básicas, no acompanhamento das famílias pelos CRAS das cidades onde escolheram para viver, além de conceder mensalmente durante seis meses o auxílio social no valor de R$ 408,00 para cada família, até que o processo de habilitação seja concluído pela Secretaria de Habitação.
A Sedest garantiu o apoio para a mudança das famílias de forma organizada, e equipes do Cidade Acolhedora transportaram as famílias para as novas moradias desde o dia 20 de dezembro.
Outras duas ocupações históricas também entraram em acordo: a próxima ao Cemitério, na 914 Sul, que abrigava 14 famílias por quase duas décadas (19 anos), e a do CCBB, onde cerca de nove famílias sobreviveram por mais de vinte anos.
Para garantir que as famílias possam continuar trabalhando com reciclagem em condições dignas, toda uma articulação está sendo realizada. O grupo de catadores que vivia na área próxima ao Cemitério recebeu espaço para fazer a triagem de material em uma cooperativa de Ceilândia; parte de um galpão na Estrutural foi destinado às famílias do CCBB e um terceiro espaço será cedido para as famílias da Garagem do Senado.
Daniel Seidel, da Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda, conta que as famílias estavam muito descrentes das ações do Estado e que o processo de remoção sofreu resistência por parte das famílias que ocupavam a área da Garagem do Senado e exigiu muitos meses de trabalho e ações articuladas de várias políticas públicas. “Essas pessoas vivenciaram ao longo dos anos constantes tensões e muitas situações de violência devido à ausência de políticas públicas que atendessem integralmente suas necessidades. A equipe do CRAS Brasília buscou conhecer essas famílias, seus desejos, suas dificuldades, suas vulnerabilidades, demandas, e, principalmente, os aspectos de suas trajetórias que, talvez, auxiliam a entender os motivos que as levaram a ocupar uma área tão precária durante tanto tempo”, comenta.
“O processo de remoção foi cuidadoso e responsável, conduzido por profissionais capacitados e comprometidos com a ação. Garantir que essas famílias tenham acesso à política de assistência social, à habitacional, bem como a ações de inclusão produtiva, é fundamental para que consigam superar essa situação de violação de direitos vivenciada por décadas. O acordo de remoção só trará benefícios e é a garantia de que essas famílias estão finalmente conquistando a cidadania efetiva”, finalizou Daniel Seidel.
No último dia 27 de dezembro, o CRAS Santa Maria realizou o primeiro encontro com cinco famílias da Invasão da Garagem do Senado que se mudaram para a cidade, para que, a partir de então, elas fossem atendidas e acompanhadas pelo Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família – PAIF daquela Unidade. Também foram encaminhadas cinco famílias para a Unidade do Recanto das Emas e três para a do Paranoá.
Na manhã de hoje (30), a Administração de Brasília fez a limpeza da área. As famílias manifestaram o desejo de plantar árvores no local, para simbolizar a renovação que acontecerá em suas vidas e dar novo significado para o espaço.